A “descoberta” da vida adulta pode ser trágica ou frustrante. Às vezes ambas. Todas as promessas que a acompanham são apenas isto: promessas. Aprendemos, por vezes, que a existência não tende necessariamente a ser cada vez melhor, mas apenas diferente. É esta sensação que o filme sueco Minha Vida de cachorro parece querer transmitir.
A película narra a história do menino Ingemar que, em função do frágil estado de saúde de sua mãe, vai morar na casa de parentes em um pequeno vilarejo no interior da Suécia, nos anos 50. No princípio, Ingemar tem grandes dificuldades para se adequar à nova vida e lidar com a saudade da mãe, do irmão e de sua cadela. O filme é sobre a transição, sobre o aprendizado, sobre a passagem e a fragilidade da vida.
O menino Ingemar é o narrador-intérprete que vê sua vida sempre tomar rumos por vezes inexoráveis, por vezes cômicos. Ele é obcecado por detalhes que mudaram vidas. Uma de suas ansiedades centrais é entender a condição da cadela Laika, o primeiro ser vivo a ser lançado, ou melhor, abandonado no espaço, como fruto da corrida espacial. Ela foi sacrificada em benefício do progresso da humanidade. E isto parece absurdo aos seus olhos. A outra é entender a tristeza permanente de sua mãe, enfiada entre os livros e a doença, que sempre parecia preferir ao contato humano.
A narrativa se passa no momento posterior a Segunda Guerra Mundial. Todos pareciam querer reconstruir a vida, continuar normalmente após o trauma. Tal idéia fica patente no permanente esforço do tio de Ingemar em construir uma casa de madeira no fundo do quintal em que vive; nos operários que manipulam a arte de construir formas com o vidro; no artista incompreendido ao tentar reproduzir o ato da concepção da vida; na banalidade do jogo de futebol e nas brincadeiras de crianças e adultos. Todos querem apenas seguir em frente. É para tal condição que Ingemar olha.
Muitos dos filmes que buscam expressar o olhar infantil sobre a existência redundam apenas na simplificação dos dilemas e conflitos humanos, como se este fosse o ponto de vista das crianças. Em Minha Vida de Cachorro tal perspectiva, felizmente, está ausente.
Narrar o mundo adotando a posição de um intérprete localizado entre a ilusão de liberdade da infância e os primeiros contatos com as obrigações e responsabilidades do amadurecimento é um desafio fascinante. O resultado pode ser niilista, cético, inspirador, otimista, poético, ou todos, o que é o caso de Minha vida de cachorro. Por ROBSON DOS SANTOS
Título original: Mitt Liv Som Hund
Ano: 1985
País: Suécia
Elenco: Anton Glanzelius, Tomas von Brömssen, Anki Lidén, Melinda Kinnaman, Kicki Rundgren, Lennart Hjulström, Ing-Marie Carlsson, Leif Ericson, Christina Carlwind, Ralph Carlsson
Roteiro: Reidar Jönsson (romance), Lasse Hallström, Brasse Brännström, Per Berglund
Gênero: Comédia/Drama
Gênero: Comédia/Drama
Origem: Suécia
Duração: 101 minutos
Tipo: Longa-metragem
2 comentários:
Amiguinhos,
me dei conta de que o cineclube de ontem foi levemente histórico: todos os coordenadores + bolsistas estiveram presentes!!! E presentearam o público com impressões, análises e reflexões supimpas. A resposta do público foi à altura: aquela observação sobre os latidos foi super massa.
Isso mesmo, iglou! Estamos apenas começando...
Saúde e liberdade!
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