quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Das coisas que podem germinar
Entre os escombros de uma velha mina de carvão, um forasteiro observa atônito o movimento de trabalhadores errando madrugada adentro. Assim começa Germinal, um filme de Claude Berri, inspirado em obra homônima de Émile Zola.
O livro de Zola foi publicado em 1885, pouco depois da criação da chamada Primeira Internacional, um movimento que pretendia associar todos os trabalhadores do mundo para unirem-se contra a exploração do Capital. O próprio Zola trabalhou como mineiro antes de escrever o livro. O filme é de 1993, período em que uma nova crise do capitalismo se agravava, explodindo greves e rebeliões por todos os lados. São duas horas e meia de filme...
A história acontece em meados do século XIX. O cenário são as minas de carvão e toda a sua produção de riquezas e de horrores. Condições miseráveis de vida que conduzem mulheres, homens, jovens e crianças ao trabalho nas minas. O filme apresenta as contradições do modo de produção capitalista, uma das características daquilo que chamamos de modernidade. Crise com o aumento da produção, trabalho precarizado, desemprego, lutas sociais e hipocrisia burguesa são alguns dos ingredientes do filme.
A cena em que uma mãe vai com seus dois filhos em busca de ajuda numa mansão burguesa caracteriza as relações sociais entre patrões e trabalhadores. Enquanto o luxo habita as mansões, a desgraça se abate sobre a casa dos proletários, um termo cunhado por Marx para definir aqueles que recebiam pelo seu trabalho apenas o suficiente para reproduzir a prole. Em cenas como essa germina a indignação...
O filme apela para a revolução. Há debates entre perspectivas socialistas, anarquistas, sendo estas um tanto estereotipadas no filme, e até social-democrata em alguns pontos. Entre propostas revolucionárias e reformistas, os trabalhadores resolvem aderir a uma greve que provocará consequencias fulminantes em suas vidas. Nessas cenas germina a necessidade de organização...
Apesar da infeliz condição de vida desses trabalhadores, a situação pode ficar ainda pior, comprovando a famosa tese de Schopenhauer. Algumas ideias de Marx, Proudhon, Bakunin, entre outros, estão presentes nos personagens de Étienne, Rasseneur e Souvarine: organização dos trabalhadores e importância da consciência de classe, a ação direta dos trabalhadores, as noções de coletivismo numa sociedade fundada nas relações de trabalho, luta por melhores condições de trabalho sem mudança no modo de produção etc.
O que entendemos por modernidade é fruto das transformações ocorridas na estrutura das sociedades a partir de vários elementos: substituição da explicação teológica pela científica, passagem do feudalismo ao capitalismo, aumento das cidades, alterações profundas nas relações entre os indivíduos e mundo social que os abriga etc.
Nas Ciências Sociais identificamos essas características nas obras dos nossos clássicos: a dominação burocrática em Weber, a divisão do trabalho social em Durkheim e o modo de produção capitalista em Marx. Aliadas às obras de Freud e de Nietzsche, os clássicos das Ciências Sociais discutem esse novo mundo, com o fim de entender, explicar e intervir (n)a realidade social.
Uma coisa fica clara no filme, a morte não tem preconceitos, ela é universal. Por entre as cenas dramáticas de Germinal, é possível aproveitar alguns momentos de lazer dos trabalhadores. E ainda, a esperança de que nos lugares e situações mais inusitadas pode germinar o amor.
Ficha técnica
Título original: Germinal
Gênero: Drama
Duração: 160 min
Ano de lançamento: 1993
Direção: Claude Berri
Países: França, Bélgica e Itália
Temática Cineclube Delírio: Modernidade
Elenco principal:
Miou-Miou - Maheude
Renaud - Étienne Lantier
Jean Carmet - Vincent Maheu dit Bonnemort (Boa Morte)
Judith Henry - Catherine Maheu
Jean-Roger Milo - Chaval Antoine
Gérard Depardieu - Toussaint Maheu
Laurent Terzieff - Souvarine
Jean-Pierre Bisson - Rasseneur
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