domingo, 17 de julho de 2011

De tempos em tempos

A definição de tempo, segundo os dicionários, é dada como a sucessão de anos, dias, horas, que envolve a noção de presente, passado e futuro. Ou ainda é definido como o momento ou ocasião apropriada para que uma coisa se realize. O que sabemos é que o tempo é uma questão fundamental para a nossa existência e que pode ser percebido através dos fenômenos da natureza (transição do dia para a noite, a mudança nas marés, observação dos astros, as fases da lua). A passagem do tempo pode ser percebida sem estar baseada necessariamente na percepção da realidade material, mas também pela maneira como a vida é compreendida pelo indivíduo. Tomando como ponto de partida algumas destas reflexões ,damos início a mais uma temática no cineclube: Tempo. Exibiremos no SESC dois documentários e dois curtas: Ãgtux, Jornada Kamayurá, A Janela Aberta e Entre Paredes.

O documentário Ãgtux (que significa “contar histórias” no idioma Maxakali) apresenta um pouco da cultura da etnia Maxakali que habita o vale do Mucuri em Minas Gerais. No documentário, são contadas algumas mudanças que ocorreram ao longo do tempo. Depois da guerra para obter a posse definitiva de suas terras, receberam terras devastadas pelos fazendeiros que desmataram a floresta para fazer pastos para o gado. Os índios continuam com o hábito de caçar, mas a caça mão é mais a mesma, agora as presas são bois e galinhas, eles também preservaram o hábito de pintar o corpo, mas não usam mais o genipapo e sim tintas industriais. A perspectiva de tempo que vemos neste filme é a resistência dos indígenas que sobreviveram até hoje. Este documentário não tem um narrador, nem um fio narrativo, de modo que a linha do tempo se dilui na contemplação de imagens.
 Jornada Kamayurá apresenta um dia na vida da etnia Kamayurá que vive no o Alto Xingu, próximo à Lagoa de Ipaivu. Quando o sol nasce, os homens e meninos saem em busca da caça enquanto as mulheres e meninas são responsáveis pela preparação do alimento. Neste documentário, a visão de tempo que temos é de um tempo biológico: os índios dormem no fim da tarde e vivem conforme o tempo da natureza.
No curta A Janela Aberta, observamos o entrelaçamento do tempo cronológico com o tempo psicológico através da história de um homem que está prestes a dormir e tenta se lembrar se fechou ou não a janela. Por causa desta simples dúvida, a mente turbulenta do personagem faz uma viagem em sua memória para tentar responder a questão e acaba revivendo e embaralhando vários dias. O passado e o presente se misturam de forma brilhante na história. A maneira de filmar (cortando, acelerando e parando o vídeo) sustenta a confusão temporal do personagem.
No curta metragem Entre Paredes é apresentada a história de um casal de vida simples. O marido é dominado pelo ciúme que logo se transforma em paranóia. Novamente temos o tempo psicológico dominando o personagem que é conduzido pelos pensamentos paranóicos que aceleram ou deixam as cenas mais lentas. Esse artifício é valorizado pela edição do filme que passa algumas partes do video mais rápidas que outras. A trilha sonora deste curta feita por Naná Vasconcelos é um espetáculo a parte, dando um efeito especial nas cenas de paranóia do personagem (o tempo da música acelera nos momentos de delírio do personagem, fazendo com que quem assiste ao curta seja conduzido pelas emoções alucinadas vividas pelos personagens, sentindo-se também sufocado, preso, entre paredes.)
Através dos filmes, temos algumas percepções de como o tempo pode ser percebido e entendido de várias maneiras, seja de forma cronológica, psicológica ou biológica. O que não se pode negar é que o tempo está passando e nenhum de nós pode deixar de acompanhá-lo.

Ficha técnica:
Título: Ãgtux
Duração: 22 min
Ano:2005
Direção: Tânia Anaya

Título:Jornada Kamayurá
Duração: 12 min
Ano: 1966
Direção: Heinz Forthmann

Título: A Janela Aberta
Duração: 10 min
Ano: 2002
Direção: Philippe Barcinsky

Título: Entre Paredes
Duração: 15 min
Ano: 2004
Direção: Eric Laurence

Um comentário:

Ninno Amorim disse...

Muito boa essa resenha. Parabéns mocinha.