sábado, 18 de junho de 2011

Amazônia adentro

Foto qualquer encontrada pelo grande oráculo da internet
Por alguma razão, esta temática Meio Ambiente está dominada pelo gênero documentário. Os filmes a serem exibidos na noite de terça-feira (dia 21, às 20:00) no SESC não fogem à regra: são documentários. Mais que isso, são documentários bastante peculiares.

Em Cidadão Jatobá, de Maria Luiza Aboim (1987) e com 14 minutos de duração, a câmera acompanha o feitio de uma canoa. Índios do Parque Nacional do Xingu escolhem o jatobá, recortam a casca da árvore (que continua em pé e provavelmente saberá recriar sua pele), moldam a casca com a ajuda da brasa e dos mais velhos e por fim iniciam a canoa na água. Esses índios falam a sua língua, se vestem de urucum e praticam seus costumes e rituais. Esses índios não desperdiçam recursos ou esforços na construção de sua canoa. A peculiaridade deste documentário, contudo, não está no processo filmado, mas na montagem do objeto. O narrador de Cidadão Jatobá é Marcos Terena, do Alto Xingu. Esse narrador não narra a elaboração da canoa, nem mesmo se refere aos índios empenhados nela. Enquanto índio tutelado pela FUNAI, Marcos Terena fala do seu processo kafkiano de emancipação.

No rio das Amazonas é de Ricardo Dias (1995) e tem 76 minutos de duração. Não aparecem amazonas, as guerreiras. Aparece o rio Amazonas. Ricardo Dias e Paulo Vanzolini (compositor e zoólogo)  fazem uma viagem de barco de 40 dias, saindo de Belém com destino a Manaus. A peculiaridade deste documentário é a horizontalidade: não existe hierarquia de vozes: as imagens, os ribeirinhos, o especialista (Vanzolini), o narrador em primeira pessoa (Ricardo Dias) e os recursos didáticos têm a mesma força.

No rio das Amazonas é um documentário bem equilibrado sobre a fauna, flora e ocupação humana nas margens do rio Amazonas. Não espanta que quando os tripulantes aportam numa cidade qualquer, acham tudo feio, sujo e barulhento. Somente os 'mateiros,' que vivem em comunidades relativamente pequenas (uma família, por exemplo), é que se integram à Natureza. Os urbanos vieram em massa (a primeira explosão demográfica se deu nos anos 80) e reproduziram o velho modelo da exploração predatória, do desperdício e da poluição.

Muito mais do que um estudo focado num assunto, estes dois documentários são fruto de experiências particulares. Walter Benjamin faz uma distinção interessante entre erfahren (= saber, experienciar) e erleben (= vivenciar, experienciar). Documentários como, por exemplo, Ônibus 174, manipulam saberes adquiridos pela via cognitiva (erfahren): há pesquisa, entrevista, investigação por trás deste tipo de documentário. Os dois documentários em questão aqui manipulam saberes adquiridos do contato: são testemunhos de uma vivência (erleben). E Leben é vida em alemão. Viva a Amazônia!

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