sexta-feira, 27 de abril de 2012
A ruptura absoluta: solidão nas grandes cidades
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Ciência por outro anglo
Footnote é um filme israelense que tem como plano de fundo a vida acadêmica. Eliezer Shkolnik sem dúvida é um solitário. Dedicou vinte anos de sua vida nos estudos do Talmude (livro da religião judaica), buscando provar sua teoria de que existiu uma versão mais antiga do que a que se tinha até o momento. Seus estudos tornaram-se obsoletos quando outro pesquisador acidentalmente encontra a prova cabal que Eliezer precisava para provar sua teoria e publica antes dele.
O filho de Eliezer, Uriel, também é pesquisador. Porém a maneira de conduzir suas pesquisas é bem diferente do modo como seu pai trabalha. Seu foco está em conseguir reconhecimento e dinheiro. Uriel alcança reconhecimento quando seu nome é indicado para vencer o prêmio Israel. Prêmio que seu pai vinha sendo indicado nos últimos vinte anos, mas nunca chegou a vencer. Quando a comissão organizadora do prêmio Israel ligou para avisar Uriel Shkolnik que ele havia vencido o prêmio, um engano acontece: ligam para o Dr. Shkolnik (Eliezer) dizendo que ele havia vencido o prêmio. Por dedicar tanto tempo de sua vida aos estudos, Eliezer não mantém uma relação saudável com seu filho. Sabendo disso, Uriel procura a comissão organizadora do evento para pedir que eles não desfaçam o engano, pois isso seria uma decepção muito grande para seu pai.
Partindo do princípio de que estar sozinho é uma opção, podemos pensar que a solidão de Eliezer está diretamente relacionada com seu método de pesquisa, que exige isolamento e dedicação total. Poderíamos encaixar Eliezer em um movimento recente denominado de slow cience. Esse movimento prega uma pesquisa com uma duração maior, que vise uma pesquisa de excelência. Enquanto Uriel, um pesquisador comum, busca reconhecimento e divulgação de seu trabalho. Reconhecimento que para a ciência atual é alcançado através de muitas publicações em revistas e livros conceituados. Tudo isso acaba afastando pai e filho não só na vida profissional como também na vida familiar. Comportamento que é reproduzido por Uriel com seu próprio filho.
O filme concorreu ao Oscar 2012 na categoria de melhor filme estrangeiro. Porém recebeu algumas críticas por conta dos “esclarecimentos” que aparecem durante o filme. É uma espécie de explicação sobre os acontecimentos da narrativa para o expectador. O diretor utiliza ferramentas estéticas como divisão da tela, narração off e divide os filme em capítulos, “Coisas que você precisa saber sobre Eliezer Shkolnik” é um exemplo das explicações que aparecem ao longo da narrativa. Este detalhe dá um aspecto cômico para algumas partes da película (o que não é ruim), porém dá a impressão de que se trata de um filme hollywoodiano e que o público não teria capacidade de compreender o filme sem as tais explicações. Apesar disso, Footnote é um bom filme, especialmente para nós, habitantes do mundo acadêmico.
Ficha técnica
Diretor: Joseph Cedar
Ano: 2011
País de origem: Israel
quarta-feira, 11 de abril de 2012
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
terça-feira, 3 de abril de 2012
Minha casa, minha língua
Em Casa Vazia, do koreano Kim Ki Duk, acompanhamos a estória de um sujeito que leva um estilo de vida peculiar. Nosso herói não tem nome, não tem endereço fixo, não tem emprego, não pede nada a ninguém. Sua técnica para sobreviver sem ser notado é engenhosa: passa o dia colando volantes com propagandas de comida etc. nas maçanetas de portas de casas e de noite entra naquela casa de onde a propaganda não foi removida. Estas costumam ser casas temporariamente vazias porque seus habitantes viajaram.
O protagonista não ocupa a casa por muito tempo. Come o que tem na geladeira, lava a roupa que tem no cesto, usa a escova de dentes que tem na pia, conserta o relógio, o rádio, a balança, dorme no sofá e parte no dia seguinte. Casas grandes, pequenas, em bairros nobres ou pobres, tanto faz: ele ocupa a casa que estiver vazia. Lá dentro, tira fotos de si ao lado de imagens das pessoas ausentes.
Solidão não se confunde com o sentimento de abandono, antes se liga à escolha de isolar-se e o desejo de mudança. O personagem principal escolhe ocupar as casas dos outros quando eles não estão. Ele escolhe não voltar para o mesmo lugar, não ter um lugar que representa a si mesmo. Ele escolhe não ter com quem conversar.
Numa casa, no entanto, há alguém. A moça que foi agredida e abandonada pelo marido percebe a presença do outro e acompanha seus movimentos pela casa sem ser vista. Numa dança de sombras, ela aprende com o estranho a arte de ocupar o espaço da intimidade alheia. Juntos, eles passam a ocupar casas e viver diversas aventuras (numa casa, são pegos dormindo; em outra casa, encontram um defunto etc.) sem, no entanto, trocar qualquer palavra. O pacto deles é forte, assim como o silêncio.
A proposta do cineclube é exibir filmes de acordo com algumas temáticas, de modo que possamos repensar os temas a partir dos filmes. Em Casa Vazia, temos, numa visão superficial, uma grande história de amor de duas pessoas em tão perfeita sintonia, que não precisam da linguagem verbal para se comunicar. Também numa visão superficial, um casamento não dá espaço à solidão. Numa visão menos superficial, percebemos que a modelo que vive numa mansão é tratada pelo marido como se fosse um objeto de difícil manuseio. Ela se sente como indica a balança quebrada: pesando 110kg. Para ela, o moço que conserta a balança significa uma possibilidade de mudança. Na cena final, contemplamos a leveza do amor dos dois. Mas em relação ao marido, ela se encolhe no silêncio. Não responder é uma escolha.
Não nos espantamos que um recém-nascido seja capaz de reconhecer, dentre todos os sons e ruídos que capta, a fala humana. Não estranhamos que somos compelidos a falar com bebês, plantas ou animais - mesmo que não tenhamos garantia de que somos compreendidos ou teremos resposta. Fazemos ligações com outras pessoas através da linguagem. Investimos horas (conversando ao vivo ou no telefone, escrevendo ou lendo cartas, e-mails, mensagens etc.) na comunicação através da linguagem, seja in presentia, ou absentia. Falamos muito, falamos sem pensar, falamos o que não devia ser dito, jogamos papo fora. Aprendemos e ensinamos através da linguagem, valorizamos quem se expressa bem e quem fala o que pensa. Optar por não falar é uma maneira de isolar-se. Assim como a casa dá pistas sobre a identidade de uma pessoa, a língua dá pistas de sua identidade. Como criar laços com uma pessoa que não mostra a sua identidade?
(Bin-jip, 2004)
• Direção: Ki-duk Kim
• Roteiro: Ki-duk Kim
• Gênero: Drama/Romance
• Origem: Coréia do Sul/Japão
• Duração: 88 minutos
• Tipo: Longa-metragem