terça-feira, 18 de maio de 2010

La lengua de las mariposas


O medo de ir pela primeira vez à escola pode ser inversamente proporcional ao encantamento posterior desse mesmo lugar, causador de insônias e até mesmo de tentativas de fuga. Esse é o contexto inicial do filme A língua das mariposas. Moncho (Manoel Lazano) é só um menino de apenas sete anos que, como a maioria dos garotos da sua idade, tem que enfrentar um dos maiores dramas da sua vida: “largar” a segurança da família e adentrar em um ambiente supostamente hostil e apavorante da escola, um lugar onde as pessoas e as regras são desconhecidas.

O filme nos mostra de maneira sensível e poética as transformações do pequeno mundo de Moncho. A escola, desta forma, aparece como elemento de transição para a ampliação do horizonte de conhecimento e perspectivas do encantador Moncho.

Logo nos primeiros dias de aula, uma relação de amizade é estabelecida entre o carismático educador Don Gregório (Fernando Fernán-Gomes) que é respeitado tanto pelos seus alunos como pelo pequeno vilarejo de Galicia e Moncho. Esta amizade traz à tona reminiscências como a amizade entre Totó e Alfredo em Cinema Paradiso.

Utilizando-se em diversas cenas de um cenário em que a natureza é fortemente presente, a fotografia é uma ferramenta narrativa, pois evidencia o contraste com as cenas urbanas finais - de maior tensão, ocasionada pela iminente guerra civil espanhola.

A música é outro elemento importante. O cineasta e músico Alejandro Amenábar (diretor de filmes como Mar adentro e Os outros) foi responsável pela trilha sonora, tornado cenas em que a Orquestra Azul da Galicia, banda na qual Moncho é mascote e seu irmão toca saxofone, pontos ascendentes do filme. Destaque para o solo de saxofone do irmão do protagonista para a garota chinesa pela qual ele está apaixonado.

No entanto, mais do que um filme que retrata a beleza da vida na óptica de um garoto, A língua das Mariposas mostra a vulnerabilidade do homem diante do social. Com o início da guerra civil espanhola e a consolidação de uma ditadura fascista, Moncho vê seu universo virar de pernas para o ar, pois duas de suas maiores referências de vida, o pai e o maestro (que são republicanos) são diretamente oprimidas pelo contexto da guerra civil. Esta é uma película belíssima, que no entanto nos mostra, de maneira cética, a relatividade  dos valores e as contradições da nossa vida diante da guerra.

Por Paulo Alberto Mendes
 

Direção: José Luis Cuerda.
Roteiro: Rafael Azcona, José Luis Cuerda, Manuel Rivas.
Elenco: Fernando Fernán Gómez, Manuel Lozano, Uxia Blanco, Gonzalo Martin Uriarte, Alexis de Los Santos.
Ano: 1999.
Gênero: Drama.
Tempo: 96 min

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