Por Robson dos Santos
As formas de desejar e vivenciar o afeto e a sexualidade são múltiplas. Isso não é acompanhado, porém, pela aceitação da diversidade no interior das relações sociais. Como estas tendem a hierarquizar os sujeitos e reproduzir as formas de dominação, as esferas do desejo e da afetividade, inerentes ao mundo social, se configuram também como espaços de poder e, evidentemente, violência. Lutar pelo reconhecimento da diversidade sexual é sempre um processo de negociação e conflito com a sexualidade que se impõe como hegemônica. Apesar de não possuir uma intencionalidade política explícita e do problemático título, tais referências são importantes para compreender a tensa trama de “Monster: desejo assassino” (EUA, 2003. Título original Monster).
A película, inspirada em fatos reais, conta a história de Aileen Wuornos (interpretada pela radicalmente transformada Charlize Theron), uma mulher que tinha sido vitimada por violências sexuais na infância e que passa a se prostituir ainda na adolescência. Aileen não encontra mais motivos para sustentar sua existência e está na iminência de cometer suicídio quando conhece Selby (representada pela incipiente Christina Ricci), uma jovem com quem acaba se envolvendo. Selby vive sob pressão de uma família tradicional que tem dificuldades em lidar com sua orientação sexual. Selby e Aileen se encontram em momentos-limite, produzidos pela violência e a discriminação que acompanha o passado delas. A relação que desenvolvem oferece algumas esperanças para ambas, mas também uma série de conseqüências. Afinal, parece não haver forma de sexualidade e afeto que escape das exigências e também da rotina.
O filme trata a sexualidade mobilizando papéis sociais. Aileen assume a função de provedora do lar e Selby o papel de jovem desprotegida. A forma encontrada para conseguir dinheiro é a venda do corpo, que Aileen enfrenta de forma bastante traumática, pois tais atos sempre a remetem para as violências e fantasmas da infância. Aqui irrompe outra tese do filme, já que é a partir destas experiências dolorosas que, certa noite, depois de ser agredida por um cliente, Aileen acaba matando-o. O incidente desencadeia uma série de outros assassinatos, que a conduzem para condição de serial killer norte-americana.
Impossível não ver aqui e em outros momentos do filme uma simplificação de algumas teses causais da psicologia sexual e de fantasmas que assombram o mundo das repressões. Afinal, tal passado de agressões comporta, na ótica da narrativa, os elementos que constroem Aileen como prostituta e assassina. É necessário pôr em suspenso os pressupostos que sustentam as teses da narrativa. Por se tratar de obra “inspirada em fatos reais” (qual não é?) é portadora de um estatuto de verdade legitimada. Penso ser mais produtivo pensar a sexualidade e os traumas que a acompanham na perspectiva da construção social e não das determinações. É evidente que a psicanálise nos ensinou muito acerca do papel dos traumas na construção das personalidades, mas nos ensinou também que o campo da sexualidade (e não do sexo!) é intrincado. Monster, em alguns momentos, caminha em sentido contrário.
É importante destacar que o filme traz também uma série de reflexões em relação às violências e exclusões que acompanham a busca pela afirmação da diversidade e ajuda na desconstrução de vários estereótipos comumente associados ao universo do desejo e da afetividade. Aí reside sua força. Os problemas que o acompanham não enfraquecem sua densidade narrativa. Ao contrário, são fortes pontos de partida para uma complexa reflexão sobre sexualidade.
Título original: Monster
Gênero: Drama
Duração: 01 hs 49 min
Ano de lançamento: EUA, 2003
Site oficial: http://www.monsterfilm.com/
Direção: Patty Jenkins
Roteiro: Patty Jenkins
Produção: Mark Darmon, Donald Kushner, Clark Peterson, Charlize Theron e Brad Wyman
Fotografia: Steven Bernstein
Direção de arte: Orvis Rigsby
As formas de desejar e vivenciar o afeto e a sexualidade são múltiplas. Isso não é acompanhado, porém, pela aceitação da diversidade no interior das relações sociais. Como estas tendem a hierarquizar os sujeitos e reproduzir as formas de dominação, as esferas do desejo e da afetividade, inerentes ao mundo social, se configuram também como espaços de poder e, evidentemente, violência. Lutar pelo reconhecimento da diversidade sexual é sempre um processo de negociação e conflito com a sexualidade que se impõe como hegemônica. Apesar de não possuir uma intencionalidade política explícita e do problemático título, tais referências são importantes para compreender a tensa trama de “Monster: desejo assassino” (EUA, 2003. Título original Monster).
A película, inspirada em fatos reais, conta a história de Aileen Wuornos (interpretada pela radicalmente transformada Charlize Theron), uma mulher que tinha sido vitimada por violências sexuais na infância e que passa a se prostituir ainda na adolescência. Aileen não encontra mais motivos para sustentar sua existência e está na iminência de cometer suicídio quando conhece Selby (representada pela incipiente Christina Ricci), uma jovem com quem acaba se envolvendo. Selby vive sob pressão de uma família tradicional que tem dificuldades em lidar com sua orientação sexual. Selby e Aileen se encontram em momentos-limite, produzidos pela violência e a discriminação que acompanha o passado delas. A relação que desenvolvem oferece algumas esperanças para ambas, mas também uma série de conseqüências. Afinal, parece não haver forma de sexualidade e afeto que escape das exigências e também da rotina.
O filme trata a sexualidade mobilizando papéis sociais. Aileen assume a função de provedora do lar e Selby o papel de jovem desprotegida. A forma encontrada para conseguir dinheiro é a venda do corpo, que Aileen enfrenta de forma bastante traumática, pois tais atos sempre a remetem para as violências e fantasmas da infância. Aqui irrompe outra tese do filme, já que é a partir destas experiências dolorosas que, certa noite, depois de ser agredida por um cliente, Aileen acaba matando-o. O incidente desencadeia uma série de outros assassinatos, que a conduzem para condição de serial killer norte-americana.
Impossível não ver aqui e em outros momentos do filme uma simplificação de algumas teses causais da psicologia sexual e de fantasmas que assombram o mundo das repressões. Afinal, tal passado de agressões comporta, na ótica da narrativa, os elementos que constroem Aileen como prostituta e assassina. É necessário pôr em suspenso os pressupostos que sustentam as teses da narrativa. Por se tratar de obra “inspirada em fatos reais” (qual não é?) é portadora de um estatuto de verdade legitimada. Penso ser mais produtivo pensar a sexualidade e os traumas que a acompanham na perspectiva da construção social e não das determinações. É evidente que a psicanálise nos ensinou muito acerca do papel dos traumas na construção das personalidades, mas nos ensinou também que o campo da sexualidade (e não do sexo!) é intrincado. Monster, em alguns momentos, caminha em sentido contrário.
É importante destacar que o filme traz também uma série de reflexões em relação às violências e exclusões que acompanham a busca pela afirmação da diversidade e ajuda na desconstrução de vários estereótipos comumente associados ao universo do desejo e da afetividade. Aí reside sua força. Os problemas que o acompanham não enfraquecem sua densidade narrativa. Ao contrário, são fortes pontos de partida para uma complexa reflexão sobre sexualidade.
Título original: Monster
Gênero: Drama
Duração: 01 hs 49 min
Ano de lançamento: EUA, 2003
Site oficial: http://www.monsterfilm.com/
Direção: Patty Jenkins
Roteiro: Patty Jenkins
Produção: Mark Darmon, Donald Kushner, Clark Peterson, Charlize Theron e Brad Wyman
Fotografia: Steven Bernstein
Direção de arte: Orvis Rigsby
Nenhum comentário:
Postar um comentário