Robson dos Santos
A distopia pode ser definida como uma forma de discurso político sobre o futuro. Assim como a utopia, trata-se de uma construção ideológica e premonitória sobre um mundo ainda inexistente, sobre as possibilidades de organização social profundamente distintas das atuais. As semelhanças se encerram por aí. Diferentemente da utopia, a distopia concebe um futuro marcado pela degradação, pela violência, pelo autoritarismo radical, por condições quase impossíveis para a vida humana e pela ausência de esperanças e liberdades. A distopia é o contraponto pessimista da utopia. Ambas, porém, dizem mais da época em que são produzidas do que sobre o futuro. Mad Max II - A caçada continua é um dos ícones distópicos da distópica década de 80 e (por que não?) das seguintes. Esta pode ser uma maneira profícua de entender o filme.
A narrativa está contextualizada em um mundo que esgotou seus recursos energéticos. A disputa por petróleo fomentou uma guerra destrutiva entre as potências globais, que confluiu na destruição quase completa da civilização. O planeta se torna uma grande arena da barbárie, um lugar deserto, sem vegetação verde, sem sombras, sem leis e dominado por gangues assassinas. Os últimos seres humanos vivem uma violência motorizada, numa terra quente, seca, submetida à ausência de qualquer norma, excetuando a violência. Todos parecem sujos, famintos, todos precisam de um banho, mas o que perseguem, sobretudo, é a gasolina. Esta é um instrumento de poder e dominação, a moeda universal. Os que dispõem de combustível podem colocar seus carros e motos customizados e barbarizados para impetrar a banalidade do mal e controlar o mundo de desertos e asfaltos. Só há uma alternativa neste planeta: fugir permanentemente, sem um plano para tal, sem um rumo em particular.
Frente a tal situação, o herói da narrativa se distigue muito pouco dos vilões. Max, interpretado por Mel Gibson, é um indivíduo sem um destino, sem esperanças e que vive sob o sofrimento de ter perdido a família. Em seu envenenado carro ele também vaga atrás de combustível. É neste contexto que ele encontra uma pequena fortaleza que protege uma comunidade no meio do deserto. Diferentemente dos bárbaros que os cercam, interessados no combustível que guardam, os moradores deste local abrigam um resquício de solidariedade e humanidade. Max irá tentar guiá-los na fuga que planejam fazer para um mundo verde, fresco, com água e sem violências.
Max não crê neste outro mundo, não crê que eles sejam capazes de fugir, não crê que sobrevivam às gangues que os atacam. Max reencontrou entre eles, porém, alguns laços de solidariedade e afetividade que justificam arriscar a vida para defender.
O filme foi produzido no início da década de 80. As recordações da crise do petróleo na década anterior ainda eram recentes. Invadir países para tomar seus recursos já era uma realidade concreta. Além disso, a desestruturação social trazida pela crise do socialismo e do welfare state e a emergência do neoliberalismo sinalizavam para uma desertificação dos projetos políticos. Em Mad Max predomina o individualismo, o “salve-se quem puder”, a degradação, o darwinismo social e a lei do mais forte.
O filme produz uma imagem distópica profundamente enraizada na década de 80. Isso vale tanto para seus fundamentos ideológicos quanto para as condições de produção do filme. A estética kitsch homenageia a predominância da cultura pop. Os carros adaptados como extensão dos corpos denotam a posição deste bem na sociedade de consumo, onde, paradoxalmente, não há muito que consumir. Os visuais escandalosos buscam ressaltar corpos animalizados, nos quais as roupas lembram mais peles e couros de animais do que vestimentas.
Resta ainda fazer algumas perguntas não para o filme, mas a partir dele: o futuro em Mad Max é o nosso presente, aqui e agora? Um olhar distópico é a única possibilidade que o presente oferece? Eis algumas questões lançadas no deserto à procura de respostas.
A narrativa está contextualizada em um mundo que esgotou seus recursos energéticos. A disputa por petróleo fomentou uma guerra destrutiva entre as potências globais, que confluiu na destruição quase completa da civilização. O planeta se torna uma grande arena da barbárie, um lugar deserto, sem vegetação verde, sem sombras, sem leis e dominado por gangues assassinas. Os últimos seres humanos vivem uma violência motorizada, numa terra quente, seca, submetida à ausência de qualquer norma, excetuando a violência. Todos parecem sujos, famintos, todos precisam de um banho, mas o que perseguem, sobretudo, é a gasolina. Esta é um instrumento de poder e dominação, a moeda universal. Os que dispõem de combustível podem colocar seus carros e motos customizados e barbarizados para impetrar a banalidade do mal e controlar o mundo de desertos e asfaltos. Só há uma alternativa neste planeta: fugir permanentemente, sem um plano para tal, sem um rumo em particular.
Frente a tal situação, o herói da narrativa se distigue muito pouco dos vilões. Max, interpretado por Mel Gibson, é um indivíduo sem um destino, sem esperanças e que vive sob o sofrimento de ter perdido a família. Em seu envenenado carro ele também vaga atrás de combustível. É neste contexto que ele encontra uma pequena fortaleza que protege uma comunidade no meio do deserto. Diferentemente dos bárbaros que os cercam, interessados no combustível que guardam, os moradores deste local abrigam um resquício de solidariedade e humanidade. Max irá tentar guiá-los na fuga que planejam fazer para um mundo verde, fresco, com água e sem violências.
Max não crê neste outro mundo, não crê que eles sejam capazes de fugir, não crê que sobrevivam às gangues que os atacam. Max reencontrou entre eles, porém, alguns laços de solidariedade e afetividade que justificam arriscar a vida para defender.
O filme foi produzido no início da década de 80. As recordações da crise do petróleo na década anterior ainda eram recentes. Invadir países para tomar seus recursos já era uma realidade concreta. Além disso, a desestruturação social trazida pela crise do socialismo e do welfare state e a emergência do neoliberalismo sinalizavam para uma desertificação dos projetos políticos. Em Mad Max predomina o individualismo, o “salve-se quem puder”, a degradação, o darwinismo social e a lei do mais forte.
O filme produz uma imagem distópica profundamente enraizada na década de 80. Isso vale tanto para seus fundamentos ideológicos quanto para as condições de produção do filme. A estética kitsch homenageia a predominância da cultura pop. Os carros adaptados como extensão dos corpos denotam a posição deste bem na sociedade de consumo, onde, paradoxalmente, não há muito que consumir. Os visuais escandalosos buscam ressaltar corpos animalizados, nos quais as roupas lembram mais peles e couros de animais do que vestimentas.
Resta ainda fazer algumas perguntas não para o filme, mas a partir dele: o futuro em Mad Max é o nosso presente, aqui e agora? Um olhar distópico é a única possibilidade que o presente oferece? Eis algumas questões lançadas no deserto à procura de respostas.
Ficha Técnica
Título Original: Mad Max 2: The Road Warrior
Gênero: Ação
Duração: 94 minutos
Lançamento: Austrália, 1981
Atores: Mel Gibson, Bruce Spence , Michael Preston , Max Phipps , Vernon Wells , Kjell Nilsson
Direção: George Miller
Roteiro: Terry Hayes, George Miller e Brian Hannat
Produção: Byron Kennedy
Música: Brian May
Fotografia: Dean Semler
Direção de Arte: Graham Walker
Título Original: Mad Max 2: The Road Warrior
Gênero: Ação
Duração: 94 minutos
Lançamento: Austrália, 1981
Atores: Mel Gibson, Bruce Spence , Michael Preston , Max Phipps , Vernon Wells , Kjell Nilsson
Direção: George Miller
Roteiro: Terry Hayes, George Miller e Brian Hannat
Produção: Byron Kennedy
Música: Brian May
Fotografia: Dean Semler
Direção de Arte: Graham Walker