sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Sonhos sonhos são
Réquiem é uma espécie de oração que tradicionalmente foi destinada a funerais. Quem não lembra do famoso réquiem produzido por Mozart que culminou com a sua própria morte? Podemos entender o réquiem também como um poema mórbido.
No caso do filme em questão, trata-se de um réquiem para um sonho. Quantos sonhos nossos são sonhos defuntos? Vontades mortas antes mesmo de terem uma oportunidade de realização? No filme, as personagens esperneiam em busca de seus sonhos. A cada nova tentativa, mais próxima fica a beira do abismo.
Podemos ver Réquiem - Por um sonho com muitos olhares diferentes: seja pela questão do uso de substâncias psicoativas, pelas ilusões oriundas dos programas de auditório, pelas promessas de amor eterno...
O drama se dá na incapacidade de saber a hora de parar. Seria incapacidade ou não temos realmente o controle que tanto desejamos (alguns acreditam ter!) sobre o rumo de nossas vidas? Como definir os limites do prazer e da loucura?
A vida continua um grande mistério. O filme que encerra a temática Obsessão e fecha com chave de ouro a atuação do Cineclube DeLírio este ano. Imperdível para quem acredita que não está pronto e que muitas mudanças estão para acontecer em suas vidas.
Apareça!
Créditos:
Título original: Requiem for a Dream
Lançamento: 2000 (EUA)
Direção: Darren Aronofsky
Atores: Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans.
Duração: 102 min
Gênero: Drama
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Por que não teve sessão
Ontem de manhã a Reitoria foi ocupada pelos estudantes. Logo em seguida, o fornecimento de energia do prédio foi cortado. Os professores das engenharias conseguiram fazer o gerador funcionar, mas os alunos tiveram que poupar energia. Como usamos uma tomada da Reitoria para projetar os filmes do cineclube na escadaria, decidimos suspender a sessão de quarta-feira (05 de outubro).
Voltaremos assim que houver condições.
Voltaremos assim que houver condições.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Cinelube na greve
Salve, pessoas!
Estamos em greve porque simplesmente não aguentamos mais... Para a realização de nossa atividade de extensão, por exemplo, não há uma sala de vídeo sequer em todo o campus. É um problema pequeno, mas dificulta muito o nosso trabalho. O cineclube aconteceu até hoje porque doamos nossas caixas de som e ficamos mendigando salas pelos corredores. Ficamos colando papel madeira nas paredes para evitar a luz externa que atrapalha a exibição. E ainda carregamos o datashow, que fica sob nossa responsabilidade e que teremos de responder a processos administrativos caso seja roubado ou danificado.
Nos parece que, segundo a (não) atenção dada ao cineclube pela universidade, essas atividades não são importantes para a formação dos estudantes. O que contraria toda uma concepção do uso do cinema na qualificação intelectual de seus expectadores, desenvolvida e praticada em todo o planeta.
Nossa decisão durante a greve é a de exibir filmes que tratem de temáticas como democracia, liberdade, revolução, movimentos sociais etc.
Vamos exibir filmes todos os dias na escada da Reitoria. Começaremos às 19:01, sem falta.
Apareçam para engrossar o caldo dos grevistas e ajudar na luta por uma universidade séria, transparente e compromissada com a nossa sociedade.
Saudações libertárias!
Estamos em greve porque simplesmente não aguentamos mais... Para a realização de nossa atividade de extensão, por exemplo, não há uma sala de vídeo sequer em todo o campus. É um problema pequeno, mas dificulta muito o nosso trabalho. O cineclube aconteceu até hoje porque doamos nossas caixas de som e ficamos mendigando salas pelos corredores. Ficamos colando papel madeira nas paredes para evitar a luz externa que atrapalha a exibição. E ainda carregamos o datashow, que fica sob nossa responsabilidade e que teremos de responder a processos administrativos caso seja roubado ou danificado.
Nos parece que, segundo a (não) atenção dada ao cineclube pela universidade, essas atividades não são importantes para a formação dos estudantes. O que contraria toda uma concepção do uso do cinema na qualificação intelectual de seus expectadores, desenvolvida e praticada em todo o planeta.
Nossa decisão durante a greve é a de exibir filmes que tratem de temáticas como democracia, liberdade, revolução, movimentos sociais etc.
Vamos exibir filmes todos os dias na escada da Reitoria. Começaremos às 19:01, sem falta.
Apareçam para engrossar o caldo dos grevistas e ajudar na luta por uma universidade séria, transparente e compromissada com a nossa sociedade.
Saudações libertárias!
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
A obsessiva fã nº 1
Uma mistura de tensão e angústia constrói gradativamente o suspense contido no filme Misery. Estamos agora diante de uma obsessão inteiramente sem limites, que se desenvolve quando a pessoa passa a conviver com uma ideia que ela acredita ser a certa e perfeita, ainda que seja um absurdo para quem está ao redor.
No filme Misery, temos a personagem muito bem representada por tal obsessão: Annie Wilkes (Kathy Bates) uma enfermeira sozinha, isolada da cidade, temperamental e consequentemente fã obcecada de Misery. Ela está decidida a fazer dos livros sua vida, troca sua realidade pela ficção dos livros que tanto admira. Essa relação que ela tem com as obras do seu escritor favorito Paul Sheldon (James Caan) gera um conflito a partir do momento em que ela o acolhe em sua casa após ele ter sofrido um acidente de carro. Ela fica disposta a ajudá-lo até descobrir que ele matou a sua personagem preferida da série que ainda será publicada. Annie se revela como uma fã doentia, capaz de fazer de tudo para ter sua personagem de volta - nem que isso custe a vida dela ou do escritor.
A temática que o filme propõe nos faz refletir sobre os (não) limites que um fã tem ao admirar os seus ídolos, que na maioria das vezes nem sabem da sua existência. Essa fascinação por algo ou alguém tende a ser perfeita para os olhos do obcecado, como é para Annie. Ela envolvia a personagem Misery na sua vida, acompanhava cada livro como se fosse real e não só o via como uma ficção.
Essa paixão desmedida partiu da ideia do livro Misery, de Stephen King, e como já era de se esperar, o roteiro é cheio de suspense e terror.
FICHA TÉCNICA:
Título original: Misery
País de origem: Estados Unidos
Ano: 1990
Duração: 107 min
Direção: Rob Reiner
Elenco: James Caan, Kathy Bates, Frances Sternhagen,Richard Fansworth.Premiações:
Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA
Oscar de Melhor Atriz (Kathy Bates)
Prêmios Globo de Ouro, EUAPrêmio de Melhor Atriz em um Drama (Kathy Bates)
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
O Cheiro vem do ralo
Baseado no livro homônimo escrito por Lourenço Mutarelli, O Cheiro do Ralo é um filme no mínimo curioso. Nele conhecemos Lourenço, um sujeito egocêntrico, sem escrúpulos que se diverte com a desgraça alheia, cujo único objetivo é “comprar a bunda” da garçonete de uma lanchonete.
Obsessão é o nome do meio de Lourenço. Ele gosta de explorar as pessoas que vão à sua loja de antiguidades para vender objetos usados, dando sempre ofertas baixas pelos objetos e sempre se aproveitando da necessidade das pessoas. Mas sem dúvida suas maiores obsessões são o ralo do banheirinho de seu escritório e a ‘bunda’ da garçonete da lanchonete que ele frequenta. Para todas as pessoas que entram em seu escritório, ele faz questão de explicar que o odor que eles sentem vem do ralo do banheiro, pois seu maior medo é que todos pensem que o cheiro vem dele. Todos os dias Lourenço vai a uma lanchonete comer uma comida que sempre lhe faz mal só para admirar os atributos físicos da moça de nome impronunciável. “Eu poderia passar uma semana inteira só olhando para essa bunda”, usando as palavras de Lourenço, percebemos um homem obcecado.
A estética do filme é bem interessante, a fotografia nos passa a impressão de sujeira, é possível sentir um desconforto gerado pelo cenário. Em todos os ambientes que Lourenço frequenta (casa, trabalho, lanchonete) percebemos lugares feios e desarrumados, com imagens amareladas, o que nos leva a imaginar o cheiro que esses lugares possuem.
Se comparado com o livro, o filme deixa a desejar no que diz respeito à fidelidade à obra original. A cena final do filme não acontece no livro e também vale citar alguns clichês presentes na película que acabam tirando o brilho do trabalho. Mas ainda assim vale a pena assistir este filme que nos mostra a questão da obsessão de uma forma suave e até cômica.
FICHA TÉCNICA:
DIREÇÃO: Heitor Dhalia
ANO: 2007
ELENCO: Selton Mello, Paula Braun, Martha Meola, Sílvia Lourenço.
DURAÇÃO: 112 MIN.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Qual é a sua obsessão?
Silêncio, casa, fama, família, dinheiro, sexo, ordem, rotina, higiene, beleza, corpo, prazer, perfume, sapatos, doença, comida, carros, drogas, companhia, filmes, cores, casamento, solidão, poder, trabalho, morte, barulho, livros, bonecas, homens, mulheres. Quais são as suas obsessões?
Dolls, de Takeshi Kitano, recorre ao Teatro Bunraku para contar três histórias que, unificadas pelo “casal-boneco” Matsumoto e Sawako, tentam mostrar ao espectador, além das obsessões das personagens, uma bela, sensível e silenciosa crítica à sociedade japonesa contemporânea. Através do recurso do coro da tragédia clássica grega, somos apresentados a homens obcecados pelo poder, por dinheiro e por suas culpas; e mulheres obcecadas pelo casamento, pela beleza, pela espera, pelo silêncio.
A estória que costura as outras estórias com um fio vermelho é a tragédia de Matsumoto, que é manipulado pelos pais para casar-se com a filha de seu chefe, apesar de ser noivo de Sawako. Contudo, antes da cerimônia do casamento, abandona tudo ao saber que Sawako havia tentado o suicídio. Assim, de forma obsessiva, une-se a quem parece de fato amar: Sawako. Mas é tarde, ela encerra-se em si mesma e torna-se uma boneca, - mas permanece senhora de suas próprias vontades (e obsessões). Para controlar esses desejos e obsessões, Matsumoto a prende nele mesmo com uma corda. Essa corda vermelha simboliza o apego desmedido que caracteriza a obsessão do casal. Acorrentados um ao outro, vagam pelo Japão, pelas estações do ano, pelas outras estórias. O fio vermelho ainda costura o presente com flashbacks e as duas pontas do filme.
Na segunda estória, acompanhamos Hiro, um alto membro da Yakuza (máfia japonesa) que, ao sentir-se à beira da morte, tenta reencontrar seu antigo amor. Amor este abandonado por ele para sair em busca de riqueza e poder (paralelamente ao que Matsumoto estava prestes a fazer). Trinta anos depois de ter sido anbandonada num banco de praça, vemos a antiga namorada de Hiro, rotineira e obsessivamente, insistindo em esperar com o almoço no banco onde costumavam se encontrar.
A terceira estória envolve Haruna Yamaguchi, uma cantora que, após um acidente, passa a viver reclusa com vergonha de seu rosto deformado. Ela recebe a visita de um único fã, um rapaz cego. Trata-se de Nukui que feriu os próprios olhos para manter intacta sua obsessão pela cantora.
O filme possui uma belíssima fotografia, transitando pelos obsessivamente organizados e limpos parques, ruas, pontes e viadutos. A câmera costura um cenário aberto, livre, sem grandes obstáculos. Ao contrário de como são tratados os próprios personagens: presos uns aos outros quer seja por sentimentos de culpa, arrependimento, amor, obsessão, quer seja por uma corda, uma cadeira de rodas ou mesmo a ignorância.
O penúltimo filme de Takeshi Kitano, Dolls (2002), é diametralmente oposto aos outros. Apelando para as emoções do espectador, captura-o pela fotografia sublime. Em Zatoichi (2003) e Hana-Bi - Fogos de artifício (1997), por exemplo, a violência se dá de forma bruta, coreografada, visual. Em Dolls não temos a Yakuza, mas a estrutura da sociedade japonesa esmagando os personagens. Não há gritos nem diálogos, há silêncios e olhares que traduzem emoções. Não é um filme quebra-cabeça, sobre o qual é preciso falar para alcançar-lhe a lógica, mas um filme que - sem palavras - dialoga com as sensações.
De fato, Dolls é um filme de poucos diálogos. Parece ser a proposta do diretor-roteirista de fazer um filme para ser mais visto do que escutado. Mas o fato de ser silencioso não faz de Dolls um filme apático, mudo. Seus personagens gritam por meio de gestos mecanizados, controlados, repetitivos. Revelam suas angústias e obsessões por meio de seus atos extremados, suas expressões, seus olhares, seus sentidos ou silêncio. Talvez seja uma tentativa de “mostrar” a sociedade japonesa, cuja comunicação é mais pautada em gestos, símbolos e olhares, se comparada à ruidosa sociedade ocidental. Marc Ferro, historiador francês estudioso de cinema, alerta-nos da necessidade de perceber a imagem fílmica (com ou sem som) tal como um texto, e como tal, possuidora de um autor, de um contexto e de elementos de reflexão e crítica da sociedade na qual foi produzido ou reproduz. Assim, não há como assistir ao filme Dolls sem levar em conta a forte presença dos valores culturais japoneses de auto-afirmação, da superação racional, do machismo extremado, do excesso de controle social.
Esta sociedade é muito bem representada por uma de suas modalidades clássicas de teatro, conhecida como Bunraku. No teatro japonês Bunraku, mais de um homem controla, de forma sincronizada, bonecos bem elaborados, bem feitos, bem trajados, de maneira tal que parecem possuir vida própria. Não por acaso dois bonecos iniciam e encerram o filme. Seria uma provocação do diretor para fazer ver o que resta de humano em nossa sociedade, seja ela oriental ou ocidental? Qual o sentido da vida e de ser humano quando nos tornamos marionetes obsessivamente controladas por vaidades, ciúme, culpa, ou mesmo o amor?
Realizado por Takeshi Kitano
País: Japão
Ano: 2002
Duração: 113 min.
Com: Kanno Miko, Nishijima Hidetoshi, Mihashi Tatsuya, Matsubara Chieko, Fukada Kyoko, Tageshige Tsutomu, Omori Nao.
Dolls, de Takeshi Kitano, recorre ao Teatro Bunraku para contar três histórias que, unificadas pelo “casal-boneco” Matsumoto e Sawako, tentam mostrar ao espectador, além das obsessões das personagens, uma bela, sensível e silenciosa crítica à sociedade japonesa contemporânea. Através do recurso do coro da tragédia clássica grega, somos apresentados a homens obcecados pelo poder, por dinheiro e por suas culpas; e mulheres obcecadas pelo casamento, pela beleza, pela espera, pelo silêncio.
A estória que costura as outras estórias com um fio vermelho é a tragédia de Matsumoto, que é manipulado pelos pais para casar-se com a filha de seu chefe, apesar de ser noivo de Sawako. Contudo, antes da cerimônia do casamento, abandona tudo ao saber que Sawako havia tentado o suicídio. Assim, de forma obsessiva, une-se a quem parece de fato amar: Sawako. Mas é tarde, ela encerra-se em si mesma e torna-se uma boneca, - mas permanece senhora de suas próprias vontades (e obsessões). Para controlar esses desejos e obsessões, Matsumoto a prende nele mesmo com uma corda. Essa corda vermelha simboliza o apego desmedido que caracteriza a obsessão do casal. Acorrentados um ao outro, vagam pelo Japão, pelas estações do ano, pelas outras estórias. O fio vermelho ainda costura o presente com flashbacks e as duas pontas do filme.
Na segunda estória, acompanhamos Hiro, um alto membro da Yakuza (máfia japonesa) que, ao sentir-se à beira da morte, tenta reencontrar seu antigo amor. Amor este abandonado por ele para sair em busca de riqueza e poder (paralelamente ao que Matsumoto estava prestes a fazer). Trinta anos depois de ter sido anbandonada num banco de praça, vemos a antiga namorada de Hiro, rotineira e obsessivamente, insistindo em esperar com o almoço no banco onde costumavam se encontrar.
A terceira estória envolve Haruna Yamaguchi, uma cantora que, após um acidente, passa a viver reclusa com vergonha de seu rosto deformado. Ela recebe a visita de um único fã, um rapaz cego. Trata-se de Nukui que feriu os próprios olhos para manter intacta sua obsessão pela cantora.
O filme possui uma belíssima fotografia, transitando pelos obsessivamente organizados e limpos parques, ruas, pontes e viadutos. A câmera costura um cenário aberto, livre, sem grandes obstáculos. Ao contrário de como são tratados os próprios personagens: presos uns aos outros quer seja por sentimentos de culpa, arrependimento, amor, obsessão, quer seja por uma corda, uma cadeira de rodas ou mesmo a ignorância.
O penúltimo filme de Takeshi Kitano, Dolls (2002), é diametralmente oposto aos outros. Apelando para as emoções do espectador, captura-o pela fotografia sublime. Em Zatoichi (2003) e Hana-Bi - Fogos de artifício (1997), por exemplo, a violência se dá de forma bruta, coreografada, visual. Em Dolls não temos a Yakuza, mas a estrutura da sociedade japonesa esmagando os personagens. Não há gritos nem diálogos, há silêncios e olhares que traduzem emoções. Não é um filme quebra-cabeça, sobre o qual é preciso falar para alcançar-lhe a lógica, mas um filme que - sem palavras - dialoga com as sensações.
De fato, Dolls é um filme de poucos diálogos. Parece ser a proposta do diretor-roteirista de fazer um filme para ser mais visto do que escutado. Mas o fato de ser silencioso não faz de Dolls um filme apático, mudo. Seus personagens gritam por meio de gestos mecanizados, controlados, repetitivos. Revelam suas angústias e obsessões por meio de seus atos extremados, suas expressões, seus olhares, seus sentidos ou silêncio. Talvez seja uma tentativa de “mostrar” a sociedade japonesa, cuja comunicação é mais pautada em gestos, símbolos e olhares, se comparada à ruidosa sociedade ocidental. Marc Ferro, historiador francês estudioso de cinema, alerta-nos da necessidade de perceber a imagem fílmica (com ou sem som) tal como um texto, e como tal, possuidora de um autor, de um contexto e de elementos de reflexão e crítica da sociedade na qual foi produzido ou reproduz. Assim, não há como assistir ao filme Dolls sem levar em conta a forte presença dos valores culturais japoneses de auto-afirmação, da superação racional, do machismo extremado, do excesso de controle social.
Esta sociedade é muito bem representada por uma de suas modalidades clássicas de teatro, conhecida como Bunraku. No teatro japonês Bunraku, mais de um homem controla, de forma sincronizada, bonecos bem elaborados, bem feitos, bem trajados, de maneira tal que parecem possuir vida própria. Não por acaso dois bonecos iniciam e encerram o filme. Seria uma provocação do diretor para fazer ver o que resta de humano em nossa sociedade, seja ela oriental ou ocidental? Qual o sentido da vida e de ser humano quando nos tornamos marionetes obsessivamente controladas por vaidades, ciúme, culpa, ou mesmo o amor?
Realizado por Takeshi Kitano
País: Japão
Ano: 2002
Duração: 113 min.
Com: Kanno Miko, Nishijima Hidetoshi, Mihashi Tatsuya, Matsubara Chieko, Fukada Kyoko, Tageshige Tsutomu, Omori Nao.
Por Marcelo Sabino e
Lou-Ann Kleppa
Lou-Ann Kleppa
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Perdidos no tempo
Estou perdida no tempo. Passei uma semana fora e quando voltei, não me dei conta de que o tempo aqui tinha passado. Na minha percepção, eventos do passado e presente estavam alocados no futuro. No entanto, Lola já tinha corrido e fui aboiada para a sessão no SESC enquanto o filme era exibido. Isto significa que esta resenha é, diferente das outras, um post scriptum.
O primeiro filme exibido foi o curta de 15 minutos Morte. de José Roberto Torero. Laura Cardoso e Paulo José fazem o casal que se engaja nos preparativos para a própria morte. Passeiam pelo cemitério escolhendo lápides e flores, encomendam o caixão, ensaiam o funeral com os amigos, redigem o testamento e arrumam as malas. Quando tudo está pronto, esperam a Morte chegar. Mas a Morte não avisa quando vem visitar.
Semelhante desorientação no tempo é trabalhada no conto dOs sete enforcados, de Leonid Andreiev. Os sete personagens do escritor russo são condenados à forca. Ao contrário do casal do curta, os sete sabem exatamente quando morrerão, e o conto todo se desenrola sobre como eles ocupam seu tempo até a chegada da morte programada. Em ambos os casos, o modo como se aproveita o tempo antes do ponto final é tematizado. No curta, um período de tempo de vida é preenchido com preparativos para a morte. No conto, um período de tempo semelhante é preenchido com tentativas de contornar o momento derradeiro.
O outro filme da noite foi Aboio, de Marília Rocha. Trata-se de um documentário lindíssimo que leva a assinatura da documentarista mineira. Marília Rocha deixa a câmera filmando depois de obter a resposta do entrevistado, esperando por uma eventual continuidade. Com a curiosidade de uma criança, ela foca na garganta de onde sai o som, como se buscasse o momento em que é produzido. Por vezes, ouvimos sua voz, mais raramente seus comentários sobre a filmagem. Enfim, percebemos seu estilo de contrapor um clímax com uma cena contemplativa. Nessas cenas, em que pássaros rodeiam no céu, podemos ruminar as imagens vistas, as estórias narradas, o aboio e o olhar manso do boi.
Também aqui podemos observar um descompasso. Em algumas cenas, o som é editado de tal maneira que o vaqueiro que vemos contando causo não enuncia a voz que ouvimos do narrador. Em outro momento, o som é cortado enquanto vemos o vaqueiro tampando o ovido esquerdo e cantando com o diafragma. Os depoimentos de vaqueiros que não valorizam o traje de couro e que se renderam à carreta que transporta o gado pelo asfalto estão no início do documentário (e mais perto da atualidade), enquanto os depoimentos de vaqueiros que aboiavam desde meninos e que seguem a tradição estão no final da película (e mais presos no passado). Por fim, há imagens captadas com a câmera Super 8 costurando toda a obra.
Marília Rocha brinca com o tempo quando dá voz a diferentes gerações: velhos vaqueiros e Lirinha, vocalista do recém-extinto Cordel do Fogo Encantado. Ela fixa o tempo da tradicional prática do aboio quando faz o documentário que registra as estórias, os falares, os cantos, os rostos, as rugas, a transformação do tempo. Através das imagens de Super 8, cria um efeito de antigo que serve de guia para o futuro. Através do canto, nos guia pelos sertões da Bahia, Pernambuco e Minas.
Apesar de serem filmes datados, nos mostram como estamos perdidos em relação à linha do tempo: incapazes de prever o fim do nosso tempo na Terra, desconhecemos algumas tradições que nos transcendem e preenchemos o nosso tempo com a busca do progresso, desenvolvimento e dinamismo.
Morte.
Direção e roteiro: José Roberto Torero
Elenco: Laura Cardoso e Paulo José
Gênero: Ficção
Duração: 15 minutos
Ano: 2002.
Aboio
Direção: Marília Rocha
Gênero: Documentário
Duração: 73 minutos
Ano: 2005.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Sobre as diferenças que o tempo pode fazer
São "apenas" vinte minutos... O "apenas" vem entre aspas porque a intenção é chamar a atenção para as infinitas coisas que podem acontecer dentro de certos intervalos de tempo que nossos relógios insistem em querer medir com a precisão positivista das sociedades modernas.
Durante vinte minutos Lola (Franka) tenta desesperadamente salvar seu namorado de uma grande enrascada. O namorado, Manni (Moritiz), trabalha para um poderoso gângster. Um descuido de Manni pode levá-lo à morte, caso Lola não chegue a tempo de intervir na tragédia...
Muita grana envolvida na trama. Talvez para despertar na plateia a força sedutora que o dinheiro exerce em nossas vidas. Talvez para mostrar que se trata de algo muito importante, cujo dinheiro é acionado pela narrativa do filme como uma metáfora de coisas indispensáveis à vida, o que me parece bem pior.
Manni encontra a solução na tentativa de assaltar um banco, enquanto Lola tenta ajuda junto ao pai que é muito rico. Um mero acidente que acontece pelo caminho muda todo o desenvolvimento da trama, trazendo consequências das mais diversas.
Um filme sobre um dos temas mais discutidos na modernidade, o tempo. De que estamos falando afinal? Como percebemos o tempo a nossa volta? O que é mais importante em nossas vidas? Como usamos o tempo que temos? Somos capazes de aumentar, diminuir ou desprezar o tempo?
Essas e outras questões emanam das cenas de Corra Lola, Corra. Despertando angústias, alegrias e pensamentos mil... Oxalá sirvam para direcionar melhor as nossas escolhas.
FICHA TÉCNICA:
Título Original: Lola rennt
Gênero: Ação
Alemanha, 1998
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
O curioso Caso de Benjamin Button
O ser humano nasce e no decorrer de sua vida passa por várias etapas no seu desenvolvimento. A infância normalmente é o período em que a pessoa começa a descobrir as coisas da vida e dispõe de saúde e energia em abundância. No período da adolescência até a idade adulta é vivido o ápice da vida. A velhice que na maioria das vezes está acompanhada de doenças que acompanham a idade é também marcada pela idia de que a morte se aproxima. É através destas mudanças que observamos a influência do tempo em nossas vidas. O filme O Curioso Caso de Benjamin Button é baseado no conto de Scott Fitzgerald e apresenta a história de um homem que viveu toda sua vida fora dessa linearidade convencional. Benjamim nasce com a aparência de um velho de mais de 80 anos e consequentemente apresenta os males que normalmente acometem pessoas com idade avançada.
Benjamim é abandonado pelo pai e cresce em um asilo, local onde conhece Daisy, neta de uma das moradoras do asilo. Juntos eles vivem a infância e todo o processo que envolve esse período, porém Benjamim se desenvolve com a saúde debilitada e vive confinado nas dependências do asilo. Eles se apaixonam, mas caminham em direções opostas, pois ela envelhece e ele rejuvenesce. Suas vidas se cruzam em apenas uns momentos, quando eles possuem quase a mesma idade, e depois é impossível manter a relação porque ela está cada vez mais velha e ele mais jovem.
O filme faz uma reflexão interessante sobre o tempo. Benjamin vive um destino contrário ao tempo. É como se sua vida fosse vivida de “trás para frente”. Também observamos algumas semelhanças entre o período da infância e o da velhice (o bebê tem dificuldades para andar assim como uma pessoa com mais de 80 anos de idade), como se o tempo fosse cíclico, como se caminhássemos para certo ponto e depois regredíssemos. Outra reflexão presente no filme é a diferença entre a mente e o corpo físico do personagem em oposição ao tempo da vida de uma pessoa.
Um espetáculo à parte é a parte técnica da película que vai desde a maquiagem até os efeitos especiais. Sem dúvida a maquiagem é o que chama atenção, pois Brad Pitt e Cate Blanchett interpretam seus personagens em várias fases da vida. O filme é interessantíssimo, reflexivo e nos permite observar outra faceta do tempo.
Ficha técnica:
Diretor: David Fincher
Ano: 2009
Gênero: Drama
Duração: 159 min
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Tempo de despertar
Ao despertarmos, uma série de processos psicossomáticos tomam conta de nosso cérebro. Esses processos nos orientam no tempo, mantendo uma noção temporal através dos nossos sentidos e dos nossos afazeres, de forma geral, das coisas simples que exercemos. O que vivemos é marcado por um tempo, o que fazemos e o que não fazemos também é marcado por um tempo. A passagem desse tempo é subjetiva de modo que cada um a sente de uma maneira diferente.
O filme Tempo de despertar é baseado em fatos reais: o neurocientista Oliver Sacks testemunhou um pequeno milagre quando foi exercer seu primeiro emprego, num hospital psiquiátrico. No filme, acompanhamos um tempo adormecido vivenciado por pessoas em estado catatônico. Esses pacientes não exercem nenhuma atividade a não ser comer e dormir. São pessoas paralisadas no tempo. Com essa visão, o doutor Malcolm Sayer interpretado por Robin Williams, passa a analisar e buscar respostas sobre essa “doença do sono”, pois ele suspeita que seus pacientes estejam com Parkinson exacerbado e que, se medicados corretamente, podem despertar.
É interessante notar no filme que mesmo após décadas de adormecimento, os pacientes sentiam em si a vontade de viver, de aproveitar tudo o que não haviam vivido antes. Eles voltam para uma realidade completamente diferente daquela vivenciada antes da encefalite letárgica. O tempo se torna valioso e cada segundo do “despertar” é aproveitado. O tratamento faz com que despertem também antigas habilidades como cantar, tocar piano, dançar etc. Esses momentos de diversão proporcionam a eles a esperança de viver, de explorarem novos lugares e de vivenciarem as coisas simples da vida.
A nossa percepção de tempo é algo completamente relativo: há quem queira viver intensamente, assim como há pessoas que vivem como se estivessem adormecidas no tempo. Ao "pararmos" o tempo, pausamos a nossa vida, entretanto a sociedade continua a exercer suas atividades. O tempo não para.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Penny Marshall
Elenco: Robert DeNiro, Robin Willians, Julie Kavner, Ruth Nelson, John Heard
Produção: Elliot Abbott, Elliot Abbott, Lawrence Lasker
Roteiro: Paul W. Shapiro, Steve Zaillian
Fotografia: Miroslav Ondrícek
Trilha Sonora: Randy Newman
Duração: 120 min.
Ano: 1990
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Estúdio: Columbia Pictures Corporation
terça-feira, 2 de agosto de 2011
4° Mostra For Rainbow
Nos dias 19 e 20 de agosto (mudou!!) acontecerá, no SESC Esplanada, a 4° Mostra de Curtas For Rainbow. Trata-se de um festival simultâneo em mais de 100 cineclubes brasileiros para discutir a diversidade sexual. A proposta é que cada cineclube exiba os curtas e ofereça outra atividade cultural complementar. Em parceria com o CineSESC, vamos exibir os filmes, promover debates e apreciar uma performance de dança.
No dia 19 de agosto, às 20:00 haverá exibição de curtas e uma mesa-redonda para discutir o tema e os curtas. No dia 20 de agosto, também às 20:00, haverá apresentação de curtas (inéditos) e uma performance de dança.
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Antes que o círculo se feche
Desde o Iluminismo, sociedades urbanas concebem o tempo como uma linha. O tempo presente é o momento que coloca os eventos passados atrás de si e os eventos futuros à sua frente. Sociedades rurais pensavam o tempo como um círculo que se fecha e se renova conforme as estações (do plantio, das chuvas, da colheita, das festas, da seca etc.).
No cinema, uma maneira bastante comum de subverter a linearidade do tempo é mostrando flashbacks. Os flashbacks são introduzidos na linha da narrativa, mas são marcados através de filtros de cores, por exemplo, ou uso de outros tipos de película. Essas marcas mostram ao espectador que a linha do tempo foi suspensa e que o que é narrado daquele modo visual diferente é uma fuga da cronologia.
O filme macedônio Antes da Chuva (1994) é, até onde sabemos, o primeiro a subverter a ordem cronológica da narrativa sem recorrer aos flashbacks, editando a ordem dos eventos em três estórias: Words, Faces, Pictures. As três estórias formam um círculo que não se fecha. Amnésia, de 2000, embaralha a ordem dos eventos para criar o efeito de confusão criada pela amnésia do protagonista. 21 gramas, de 2003, repete a fórmula de Amnésia.
Antes da Chuva é um filme muitíssimo premiado não só pela sua edição do tempo, mas pelas possibilidades de interpretação que oferece. Durante a guerra da Bósnia, um fotógrafo renomado, residente na Inglaterra, volta à sua terra natal depois de 16 anos e é confrontado com a violência das disputas locais. Mas não é assim que o filme começa.
Words conta a estória de uma moça albanesa que vai se refugiar dos vizinhos cristãos no monastério e acaba sendo protegida pelo monge que fez voto de silêncio. Além de ele não dizer nenhuma palavra, os dois pertencem a línguas diferentes. Faces conta a estória da amante (inglesa) do fotógrafo que está grávida do marido. Ela estranha tanto o marido quanto o amante modificado pela violência registrada na guerra da Bósnia. Pictures conta a estória do fotógrafo que tenta se refugiar da guerra e da retidão britânica na Macedônia. Chegando lá, é confrontado com a velha disputa entre os albaneses (vizinhos) e ortodoxos (a família). A garota albanesa que seus familiares estão caçando refugia-se no monastério.
Durante o filme, a frase "O tempo nunca morre, o círculo nunca se completa", é repetida três vezes. A estória não se fecha, (antes progride em forma de espiral) mas o círculo de violência faz com que o filme permita essa reflexão sobre a circularidade.
Directed by | Milčo Mančevski |
---|---|
Produced by | Marc Baschet |
Written by | Milčo Mančevski |
Starring | Katrin Cartlidge Rade Serbedzija |
Music by | Anastasia |
Cinematography | Darius Khondji |
Editing by | Nicolas Gaster |
Distributed by | Mikado Film |
Release date(s) | 1 September 1994 (premiere at VFF) 24 February 1995 11 August 1995 |
Running time | 113 minutes |
Country | Macedonia United Kingdom |
Language | Macedonian English Albanian |
domingo, 17 de julho de 2011
De tempos em tempos
A definição de tempo, segundo os dicionários, é dada como a sucessão de anos, dias, horas, que envolve a noção de presente, passado e futuro. Ou ainda é definido como o momento ou ocasião apropriada para que uma coisa se realize. O que sabemos é que o tempo é uma questão fundamental para a nossa existência e que pode ser percebido através dos fenômenos da natureza (transição do dia para a noite, a mudança nas marés, observação dos astros, as fases da lua). A passagem do tempo pode ser percebida sem estar baseada necessariamente na percepção da realidade material, mas também pela maneira como a vida é compreendida pelo indivíduo. Tomando como ponto de partida algumas destas reflexões ,damos início a mais uma temática no cineclube: Tempo. Exibiremos no SESC dois documentários e dois curtas: Ãgtux, Jornada Kamayurá, A Janela Aberta e Entre Paredes.
O documentário Ãgtux (que significa “contar histórias” no idioma Maxakali) apresenta um pouco da cultura da etnia Maxakali que habita o vale do Mucuri em Minas Gerais. No documentário, são contadas algumas mudanças que ocorreram ao longo do tempo. Depois da guerra para obter a posse definitiva de suas terras, receberam terras devastadas pelos fazendeiros que desmataram a floresta para fazer pastos para o gado. Os índios continuam com o hábito de caçar, mas a caça mão é mais a mesma, agora as presas são bois e galinhas, eles também preservaram o hábito de pintar o corpo, mas não usam mais o genipapo e sim tintas industriais. A perspectiva de tempo que vemos neste filme é a resistência dos indígenas que sobreviveram até hoje. Este documentário não tem um narrador, nem um fio narrativo, de modo que a linha do tempo se dilui na contemplação de imagens.
Jornada Kamayurá apresenta um dia na vida da etnia Kamayurá que vive no o Alto Xingu, próximo à Lagoa de Ipaivu. Quando o sol nasce, os homens e meninos saem em busca da caça enquanto as mulheres e meninas são responsáveis pela preparação do alimento. Neste documentário, a visão de tempo que temos é de um tempo biológico: os índios dormem no fim da tarde e vivem conforme o tempo da natureza.
No curta A Janela Aberta, observamos o entrelaçamento do tempo cronológico com o tempo psicológico através da história de um homem que está prestes a dormir e tenta se lembrar se fechou ou não a janela. Por causa desta simples dúvida, a mente turbulenta do personagem faz uma viagem em sua memória para tentar responder a questão e acaba revivendo e embaralhando vários dias. O passado e o presente se misturam de forma brilhante na história. A maneira de filmar (cortando, acelerando e parando o vídeo) sustenta a confusão temporal do personagem.
No curta metragem Entre Paredes é apresentada a história de um casal de vida simples. O marido é dominado pelo ciúme que logo se transforma em paranóia. Novamente temos o tempo psicológico dominando o personagem que é conduzido pelos pensamentos paranóicos que aceleram ou deixam as cenas mais lentas. Esse artifício é valorizado pela edição do filme que passa algumas partes do video mais rápidas que outras. A trilha sonora deste curta feita por Naná Vasconcelos é um espetáculo a parte, dando um efeito especial nas cenas de paranóia do personagem (o tempo da música acelera nos momentos de delírio do personagem, fazendo com que quem assiste ao curta seja conduzido pelas emoções alucinadas vividas pelos personagens, sentindo-se também sufocado, preso, entre paredes.)
Através dos filmes, temos algumas percepções de como o tempo pode ser percebido e entendido de várias maneiras, seja de forma cronológica, psicológica ou biológica. O que não se pode negar é que o tempo está passando e nenhum de nós pode deixar de acompanhá-lo.
Ficha técnica:
Título: Ãgtux
Duração: 22 min
Ano:2005
Direção: Tânia Anaya
Título:Jornada Kamayurá
Duração: 12 min
Ano: 1966
Direção: Heinz Forthmann
Título: A Janela Aberta
Duração: 10 min
Ano: 2002
Direção: Philippe Barcinsky
Título: Entre Paredes
Duração: 15 min
Ano: 2004
Direção: Eric Laurence
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Projeto aprovado
O nosso projeto de extensão universitária cineclube deLírio foi aprovado (yuhu!), concedendo inclusive duas bolsas (ufa!), conforme pedimos (yeah!!!). Isso significa que continuamos exibindo quatro filmes por temática na Unir Campus (toda sexta às 17:00) e no Sesc (toda penúltima terça-feira do mês às 20:00).
Até segunda ordem, as temáticas são:
- Meio Ambiente (encerra essa semana)
- Tempo
- Obsessão
- Morte
- Cinema & Literatura
- Solidão
- Liberdade
- Música - provavelmente outra dose de Chico
- Revolução
- Pós-Modernidade
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Carrocracia
O mapa da violência 2011, publicado em fevereiro, indica que as mortes em acidentes de trânsito aumentaram 32,4% entre 1998 e 2008. Outro estudo mostra que a maioria das vítimas fatais de acidentes de trânsito são homens entre 20 e 39 anos. Envolvidos são: álcool e alta velocidade. São tratados como acidentes, não como homicídios, imprudências ou imperícias. Em tese, não existem acidentes, já que o trânsito deveria seguir regras conhecidas por todos os agentes de trânsito (= todas as pessoas que fazem trânsito: pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas).
Por que as pessoas continuam comprando carros? O trânsito é um campo de batalha sangrento. Para cada morto no trânsito, há 50 feridos. E ferimentos ocasionados por latas em alta velocidade são incapacitantes. As armas são os motores, as armaduras são os vidros escuros que garantem o anonimato.
Por que as pessoas acham que precisam de um carro individual? Um carro é como se fosse a casa que a pessoa pode levar consigo. Porque há carros para todos os bolsos, eles representam o status social do dono do veículo. Dentro do carro, o motorista pode guardar suas coisas, ouvir sua música, se proteger da chuva ou do sol, comer, dormir e até transportar coisas e pessoas. O transporte acaba sendo o último critério, já que um carro individual é muito mais que isso: é sinal de sucesso profissional.
Com o sucesso, vem o prazer. O dono do automóvel diz que tem prazer de dirigir, apesar do stress no trânsito, da raiva que ele sente pelos outros agentes de trânsito, dos assaltos, da solidão entediante e dos radares castradores. O prazer de dirigir vem da sensação de poder sobre a máquina que ele controla e da sensação de velocidade que máquina atinge. Motoristas de táxi e ônibus, segundo Fé em Deus e pé na tábua, de Roberto DaMatta, não sentem prazer em dirigir. Dirigir é a sua profissão, e sua profissão envolve transportar pessoas.
O trânsito brasileiro não é feito de pessoas. O ciclista e o pedestre, por exemplo, não são vistos como pessoas, mas como obstáculos. No entanto, um obstáculo como uma caçamba cheia de entulho, por exemplo, é sempre contornado com boa margem. No mesmo livro, Roberto DaMatta defende a tese de que o trânsito brasileiro não é feito de iguais, submetidos ao mesmo Código de Trânsito Brasileiro, mas é hierarquizado. O motorista vê todos os outros agentes de trânsito ou como superiores (carros importados e grandes: ônibus) ou como inferiores (carros velhos, ciclistas, carroceiros, pedestres). O darwinismo selvagem da segregação natural ignora que o CTB é para todos e que o mais frágil tem preferência sobre o mais forte.
Além de ser uma das maiores causas de morte violenta no Brasil, o carro polui. Sua produção polui, seu uso polui, seu descarte polui. Não existe carro ecológico. Carros demandam asfalto. Asfalto impermeabiliza o solo. São Paulo sabe bem o que é isso: alagamentos. Carros custam caro para serem adquiridos e mantidos. Carros ocupam espaço público. Estacionamentos custam dinheiro, espaço e impermeabilizam o solo. Estacionar um carro na rua é equivalente a colocar um sofá numa vaga: os dois são bens privados ocupando um espaço que é de todos - e mais: um lugar de passagem.
Para fechar a temática Meio Ambiente, escolhemos três documentários feitos por paulistas sobre o trânsito (a maior queixa sobre a cidade), carros e bicicletas. O maior poluidor atual são as minas de carvão. O segundo maior são os carros. Não só a queima de combustível polui, mas a sua produção, a estrutura viária que ele demanda e o seu descarte. Por fim, o carro altera drasticamente as relações humanas.
Thiago Benicchio e Branca Nunes fizeram o documentário de 39 minutos Sociedade do Automóvel como trabalho de fim de curso em 2005. O filme bombou no meio alternativo e cicloativista - mesmo porque o Thiago é participante ativo da bicicletada de São Paulo há anos.
O Desafio Intermodal é uma gincana que acontece todo ano em São Paulo no Dia Mundial Sem Carro (22 de setembro). O desafio é fazer os 10 km em menos tempo e poluindo menos - em diferentes modos de transporte. Nessa quarta edição, a bicicleta ganhou até do helicóptero.
Cidades para Pessoas foi feito por Natalia Garcia. O objetivo do projeto é mostrar como planejamento urbano é importante para uma boa qualidade de vida de cidadãos. Cidadão é diferente de consumidor. O consumidor é o indivíduo querendo consumir para subir na hierarquia, isolando-se dos outros. O cidadão é o sujeito atento para o seu ambiente, consciente de seus direitos e deveres.
Coincidência ou não, os três vídeos foram elaborados por jornalistas que fizeram da bicicleta o seu meio de transporte principal.
ESPN Brasil - Desafio Intermodal 2009
Renata Falzoni
duração: 4' 49''
Brasil, 2009
Cidades para pessoas
www.cidadesparapessoas.com.br
Natalia Garcia
duração: 6' 51''
Brasil, 2011
Sociedade do Automóvel (Automobile Society)
Branca Nunes e Thiago Benicchio
www.ta.org.br/sociedadedoautomovel
Brasil, 2005 - duração: 39'
segunda-feira, 27 de junho de 2011
A corporação
Baseado no livro The corporation - the pathological pursuit of profit and power de Joel Bakan, A corporação é um documentário que nos apresenta um pouco do que acontece no mundo das grandes corporações. O filme mostra os vários crimes cometidos por essas organizações e como eles afetam nossas vidas diretamente. O único objetivo dessas empresas é o lucro, mesmo que para isso tenham que destruir o meio ambiente, explorar o trabalho infantil ou até provocar doenças mortais nos consumidores de seus produtos.
Perante a lei norte americana, as corporações são reconhecidas como ‘indivíduos’, ou seja, gozam de direitos como qualquer cidadão. Porém, quando se trata dos crimes cometidos por elas, não existe uma pessoa real para ser responsabilizada pelas atrocidades cometidas por estas empresas. Partindo da ideia de que corporações são indivíduos, o documentário tenta traçar um “perfil psicológico” desses indivíduos. Segundo alguns entrevistados no documentário, trata-se de um caso grave de psicopatia.
Psicopatia é uma doença mental grave, caracterizada pela ausência de sentimentos genuínos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, egocentrismo, falta de remorso e culpa por atos cruéis. Todos esses sintomas descrevem com precisão a postura adotada pelas corporações diante da sociedade. Algumas destas empresas demonstram frieza ao explorarem a mão de obra barata de países pobres - inclusive de crianças, para obter maiores lucros. Outras empresas manipulam a população através de propagandas para que as pessoas acreditem que precisam consumir cada vez mais. Novamente o objetivo é o lucro. Outras ainda demonstram total falta de remorso ao utilizarem um produto químico (BST) nas vacas para aumentar a produção de leite que causa dores horríveis no animal e ainda é prejudicial à saúde humana.
O documentário conta com entrevistas e comentários de nomes de peso como Noam Chomsky, Milton Friedman, Mark Moody-Stuart (ex-dirigente mundial da Shell) e Vandana Shiva. A corporação se encaixa muito bem na temática meio ambiente, pois apresenta um dos grandes causadores de problemas ambientais no mundo: a exploração desmedida de recursos naturais e o modelo de produção desumanizado. O filme é um retrato da situação atual deste planeta que grita por mudanças antes que seja tarde demais.
Ficha técnica:
Título Original: The corporation
País de origem: Canadá
Diretor: Mark Achbar
Ano: 2003
Roteirista: Joel Bakan
sábado, 18 de junho de 2011
Amazônia adentro
Foto qualquer encontrada pelo grande oráculo da internet |
Em Cidadão Jatobá, de Maria Luiza Aboim (1987) e com 14 minutos de duração, a câmera acompanha o feitio de uma canoa. Índios do Parque Nacional do Xingu escolhem o jatobá, recortam a casca da árvore (que continua em pé e provavelmente saberá recriar sua pele), moldam a casca com a ajuda da brasa e dos mais velhos e por fim iniciam a canoa na água. Esses índios falam a sua língua, se vestem de urucum e praticam seus costumes e rituais. Esses índios não desperdiçam recursos ou esforços na construção de sua canoa. A peculiaridade deste documentário, contudo, não está no processo filmado, mas na montagem do objeto. O narrador de Cidadão Jatobá é Marcos Terena, do Alto Xingu. Esse narrador não narra a elaboração da canoa, nem mesmo se refere aos índios empenhados nela. Enquanto índio tutelado pela FUNAI, Marcos Terena fala do seu processo kafkiano de emancipação.
No rio das Amazonas é de Ricardo Dias (1995) e tem 76 minutos de duração. Não aparecem amazonas, as guerreiras. Aparece o rio Amazonas. Ricardo Dias e Paulo Vanzolini (compositor e zoólogo) fazem uma viagem de barco de 40 dias, saindo de Belém com destino a Manaus. A peculiaridade deste documentário é a horizontalidade: não existe hierarquia de vozes: as imagens, os ribeirinhos, o especialista (Vanzolini), o narrador em primeira pessoa (Ricardo Dias) e os recursos didáticos têm a mesma força.
No rio das Amazonas é um documentário bem equilibrado sobre a fauna, flora e ocupação humana nas margens do rio Amazonas. Não espanta que quando os tripulantes aportam numa cidade qualquer, acham tudo feio, sujo e barulhento. Somente os 'mateiros,' que vivem em comunidades relativamente pequenas (uma família, por exemplo), é que se integram à Natureza. Os urbanos vieram em massa (a primeira explosão demográfica se deu nos anos 80) e reproduziram o velho modelo da exploração predatória, do desperdício e da poluição.
Muito mais do que um estudo focado num assunto, estes dois documentários são fruto de experiências particulares. Walter Benjamin faz uma distinção interessante entre erfahren (= saber, experienciar) e erleben (= vivenciar, experienciar). Documentários como, por exemplo, Ônibus 174, manipulam saberes adquiridos pela via cognitiva (erfahren): há pesquisa, entrevista, investigação por trás deste tipo de documentário. Os dois documentários em questão aqui manipulam saberes adquiridos do contato: são testemunhos de uma vivência (erleben). E Leben é vida em alemão. Viva a Amazônia!
terça-feira, 14 de junho de 2011
Uma verdade inconveniente
O filme Uma verdade inconveniente, dirigido por Davis Guggenheim, é uma criação visual impactante. O filme foi elaborado através das pesquisas e palestras de Al Gore ao redor do mundo. Ele esclarece a problemática ambiental, as causas e consequências do aquecimento global de forma realista e alarmante.
Al Gore utiliza meios audiovisuais (como dados cientííicos e imagens de fenômenos naturais), para argumentar que a temperatura da Terra está aumentando e que a causa disso são as próprias ações dos homens. Além de dar uma explicação tradicional sobre o aquecimento global, Al Gore utiliza uma animação inovadora.
Teoricamente, o aquecimento global é causado pela concentração de gases na atmosfera, os chamados gases de efeito estufa (dióxido de carbono, metano e óxido nitroso), que por sua vez causam o aumento da temperatura terrestre. A queima de combustíveis fósseis e o desmatamento tem sido a principal fonte desses gases poluentes.
Ao falar sobre as mudanças climáticas, primeiramente Al Gore discute a ignorância das pessoas com relação a esse fenômeno. Ele diz que, por a Terra ser extensa, as pessoas acabam acreditando que é impossível causar um impacto nocivo no ambiente terrestre. Essa temática nos alerta para os desastres ambientais cujos grandes causadores somos nós mesmos. Exercemos atividades que diretamente ou indiretamente interferem nesses fenômenos (enchentes, furacões, degelo etc.) que estão acontecendo.
Há quem pense o contrário quanto a essa parcela de culpa humana. Os chamados “céticos do aquecimento global”, citados por Al Gore, são pessoas que acreditam que a Terra está aquecendo devido a causas naturais. Para eles, tais mudanças climáticas ocorrem desde a origem da Terra, sob a ação ou não do Homem, por exemplo, as Eras Glaciais. Contudo, essas mudanças climáticas, explica Al Gore, ocorreram com variações naturais nos níveis de dióxido de carbono menores do que as que notamos hoje.
O filme nos alerta sobre as principais causas e consequências do aquecimento global, mostra o quão agressivos somos com o meio ambiente. E ao mesmo tempo, demonstra que existem soluções para minimizar esses impactos que estão acontecendo. Assim, Al Gore finaliza sua reflexão, cabendo a nós reverter tudo isso através de nossas ações.
“Cada um de nós é uma causa de aquecimento global; mas cada um de nós pode se tornar parte da solução - em nossas decisões sobre o produto que compramos a eletricidade que usamos o carro que dirigimos o nosso estilo de vida. Podemos até fazer opções que reduzam a zero as nossas emissões de carbono.” Al Gore
Ficha-técnica:
Título original: An inconvenient truth
Gênero: Documentário
Duração: 94 min
Direção: Davis Guggenheim
Elenco: Al Gore
Ano de lançamento: 2006
Origem: EUA
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Um outro modo de ver as coisas
Esta semana iniciamos nossa temática Meio Ambiente, em referência ao dia 5 de junho, Dia do Meio Ambiente. Durante o mês de junho e na primeira sexta-feira de julho, vamos exibir filmes que tratam dessa questão tão falada e pouco praticada em nossa sociedade.
Nesta sexta-feira (10/06) vamos compartilhar com os nossos cineclubistas três filmes que abordam a temática por diferentes aspectos que se complementam. O primeiro filme é Um Outro Modo de Ver as Coisas, escrito por Daisaku Ikeda e dirigido por Cory Taylor, com o apoio da Soka Gakkai Internacional (SGI).
O filme trata de uma viagem do então jovem historiador britânico Arnold Toynbee aos campos de batalha entre a Grécia e a Turquia, nos idos de 1920. A postura de Toynbee em "ouvir o outro lado", mostrando as crueldades cometidas pelos gregos (apoiados pelos norte-americanos - sempre eles!) contra civis turcos, não agradou a sociedade europeia da época, cúmplice das atrocidades da guerra greco-turca. O texto de Ikeda relata o depoimento que o próprio Toynbee fez quando da ocasião de um diálogo que realizaram, que resultou num livro intitulado Escolha a Vida.
O segundo filme é Uma Revolução Silenciosa, também dirigido por Cory Taylor, com o apoio da SGI. No filme são contadas experiências exitosas com relação aos grandes problemas ambientais que o planeta enfrenta. Trata da força que iniciativas individuais podem ter quando conseguem romper a barreira do que se acreditava impossível. Sem apoio de seus governos, essas pessoas iniciam movimentos que promovem uma verdadeira revolução silenciosa. Para os mais céticos, o filme apresenta uma proposta esperançosa de mudar o mundo para que ele fique bom para todos que o habitam. Coleta de água da chuva, método seguro de destruição de poluentes orgânicos persistentes (POP's) e o Movimento Cinturão Verde, são alguns do exemplos que o filme nos traz.
O terceiro filme é o consagrado Ilhas das Flores, de Jorge Furtado. Com relação a este filme não há muito o que dizer, pois é bem conhecido do público brasileiro. De forma brilhantemente didática, Jorge Furtado nos apresenta o cotidiano de uma comunidade real com cenas fortíssimas sobre a degradação da condição humana promovida pelo próprio humano. O curta-metragem consegue ser divertido, educativo e altamente esclarecedor das desigualdades sociais promovidas pelo capitalismo.
Assim será nossa sessão do cineclube DeLírio desta semana. Apareça e apresente a sua estratégia de ação!
Créditos:
Um Outro Modo de Ver as Coisas - Escrito por Daisaku Ikeda, direção Cory Taylor, EUA, 21 min. 2004.
Ganhador do Golden Reel Award de Melhor curta-metragem no 3º Festival Internacional de Cinema de Tiburon.
Uma Revolução Silenciosa - Direção Cory Taylor, EUA, 30 min. 2002.
Ilha das Flores - De Jorge Furtado, Brasil, 13 min. 1989.
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terça-feira, 31 de maio de 2011
Anos Dourados
A temática especial sobre a obra de Chico Buarque de Holanda exibiu até agora três DVDs: Meu caro amigo, À flor da pele e Vai passar. Cada exibição apresentou assuntos diferenciados: amizade, alma feminina, amor, ditadura militar, censura entre outros.
Na sequência, o quarto DVD intitulado Anos Dourados tem como cenário o Jardim Botânico. Lugar onde Chico desbrava a natureza e relembra as mais belas histórias, principalmente sobre sua parceria com o renomado músico Tom Jobim. O local das gravações desse filme não foi escolhido ao acaso, pois Tom era um verdadeiro apreciador da natureza. Ele se interessava desde pequeno pelas peculiaridades brasileiras e, sobretudo, pela etimologia da fauna e flora.
A influência de Tom Jobim sobre a música de Chico Buarque foi marcada com a canção Chega de Saudade. Foi daí que Chico começou a se interessar de verdade em fazer música e a entrar no mundo da bossa nova.
Chico Buarque considera Tom mais do que um músico, um “maestro soberano”, como diz na canção Paratodos, escrita em homenagem ao seu grande amigo:
“O meu pai era paulista/ Meu avô pernambucano/ O meu bisavô mineiro/ Meu tataravô baiano/ Meu maestro soberano/ foi Antônio Brasileiro.” (Paratodos, 1993)
Ambos mantinham uma parceria e amizade inigualável. Tom Jobim entrou como parceiro a partir da música Retrato em Branco e Preto. Ele deu a parte instrumental para que Chico colocasse a letra e assim continuou a parceria com outras músicas como: Pois é, Sabiá, Anos Dourados, Eu te amo, Olha Maria etc. Houve outras parcerias, como por exemplo, com o músico Edu Lobo. Os dois compuseram em especial a música Choro Bandido em homenagem ao Tom. Um trecho nos diz:
“Fez das tripas a primeira lira/ que animou todos os sons/ E daí nasceram as baladas/ E os arroubos de bandidos como eu/ Cantando assim:/ Você nasceu pra mim.” (Choro Bandido, 1985)
Esta canção ressalta a consideração que Chico tinha e ainda tem com relação a Tom. Ele comenta a importante influência que Tom Jobim teve sobre a bossa nova brasileira.
Entre músicas e depoimentos, aparecem também conversas entre os dois amigos falando de vários assuntos, como: o rock and roll; a crítica sobre generais e artistas; o folclore e a Lua Cris (citada na música Imagina) e a etimologia das palavras. Chico fala também do surgimento da Bossa Nova, do cinema e do teatro que impulsionaram o sentimento de orgulho no brasileiro.
Mesmo com mais de cinquenta anos de criação, a bossa nova ainda se faz presente no mundo inteiro e é regravada a todo o momento. A música de Tom exerce sobre outros compositores como uma matriz da música brasileira moderna. Até hoje, músicas consagradas como: Garota de Ipanema, Águas de Março, A Felicidade, Retrato em Branco e Preto, Chega de saudade, Anos Dourados são regravadas por músicos admiradores de Tom. Por exemplo, a cantora Ana Carolina que regravou a canção Retrato em Branco e Preto.
Segundo Chico, Tom Jobim foi um grande expoente da música brasileira. E isso fica bem claro ao assistirmos essa magnífica série retrospectiva, na qual nos deparamos com músicos geniais de grande sucesso, porém de uma humildade gigantesca.
Título Original: Chico Buarque – Anos Dourados - Brasil 2005
Com: Chico Buarque, Tom Jobim, Milton Nascimento, Paula Morelenbaum, Edu Lobo e Caetano Veloso.
Direção: Roberto de Oliveira
Músicas deste DVD:
Com: Chico Buarque, Tom Jobim, Milton Nascimento, Paula Morelenbaum, Edu Lobo e Caetano Veloso.
Direção: Roberto de Oliveira
Músicas deste DVD:
1- Choro Bandido (Chico Buarque/Tom Jobim)
2- Eu te amo (Chico Buarque/Tom Jobim/Paula Morelenbaum)
3- Olha Maria (Tom Jobim/Milton Nascimento)
4- Imagina (Chico Buarque/Tom Jobim/Paula Morelenbaum)
5- Sem Você (Chico Buarque / Tom Jobim)
6- Chega de Saudade (Chico Buarque/Edu Lobo)
7- Anos Dourados (Tom Jobim / Chico Buarque)
8- Anos Dourados (Chico Buarque/Caetano Veloso)
9- Lígia (Chico Buarque)
2- Eu te amo (Chico Buarque/Tom Jobim/Paula Morelenbaum)
3- Olha Maria (Tom Jobim/Milton Nascimento)
4- Imagina (Chico Buarque/Tom Jobim/Paula Morelenbaum)
5- Sem Você (Chico Buarque / Tom Jobim)
6- Chega de Saudade (Chico Buarque/Edu Lobo)
7- Anos Dourados (Tom Jobim / Chico Buarque)
8- Anos Dourados (Chico Buarque/Caetano Veloso)
9- Lígia (Chico Buarque)
10-Piano na Mangueira (Chico Buarque/Tom Jobim)
11-Sem Compromisso (Chico Buarque/Tom Jobim)
12-A felicidade (Chico Buarque/Tom Jobim/Milton Nascimento)
13-Se todos fossem iguais a Você (Chico Buarque/Tom Jobim/Milton Nascimento)
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